19.10.21

Simbiose

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 Por onde eu começo?

Eu poderia fazer um compilado de frases aqui que talvez ilustrem melhor o que eu quero dizer. Sobre quem eu quero falar. É engraçado como as palavras dos outros às vezes cabem tão bem em situações que são nossas. Eu gosto muito de usar as palavras dos outros, mas me ocorreu que, se elas servem tão bem pra mim, provavelmente serviram ainda melhor pros donos originais. Então eu vou usar as minhas próprias palavras o máximo que puder hoje, e vou pegar emprestado dos outros só de vez em quando.

Tudo que eu escrevo ultimamente que não é uma narrativa soa como uma carta. Ou um e-mail. Isso porque, se eu não estou escrevendo histórias, estou escrevendo pra alguém. Não um alguém geral, mas um alguém específico. E quando eu estou escrevendo histórias, estou escrevendo pra esse alguém também.

Ultimamente (há quase um ano), quando eu estou escrevendo, eu estou escrevendo pra Júlia. 

Eu li em algum lugar (eu sei exatamente onde, mas não consigo achar, então vou deixar vago) que as dedicatórias são as melhores partes dos livros. Você escreve algo pra uma audiência de milhares, mas na realidade cada palavra é pra essa pessoa específica.

Já pensei muito em pra quem eu vou dedicar meus livros (no plural? que ousado!), mas nesses últimos tempos tem se tornado bem óbvio que tudo que eu escrevo é pra Júlia. De um jeito ou de outro. 

Não escrevo em blog nenhum há meses porque tenho escrito outras coisas. Histórias, principalmente, coisa que eu achava que não conseguia mais fazer já há uns 5 anos. Aparentemente consigo sim, só me faltava coragem, ideia, e, principalmente, quem me lesse. Do jeito certo. De algum jeito que me faça sentir encorajada. Aí veio a Júlia e trouxe tudo isso junto. Então agora eu voltei a escrever. As histórias na minha cabeça têm pra onde ir. 

Acho que não tem presente melhor. 

Eu falo muito, sobre muita coisa, com a Júlia. Ela é minha leitora favorita de muitos jeitos. Pra muitas coisas. Capítulos novos, piadinhas sem graça, relatos sobre meus dias de estresse ou sobre o que eu comi no almoço. Acho que eu não me sentiria bem-vinda falando tanto com mais ninguém. 

Sem a Júlia, quem eu seria? Quem eu era? Amar alguém te faz se perguntar. 


I hate to make this all about me, but who am I supposed to talk to, what am I supposed to do, if there’s no you?


Às vezes as coisas são difíceis pra Júlia. Às vezes eu passo alguns dias sem saber dela, e eu não a culpo por isso, mas sinto a falta dela. O que, sinceramente, não é da sua conta, Júlia, você já tem muito com o que se preocupar. Mas, quando eu sinto falta da Júlia, eu tento tratar o mundo todo como eu a trato. Aquela frase de Uma Vida Pequena. “E então eu tento ser gentil com tudo que eu vejo e, em tudo que eu vejo, eu vejo ele”. Acho que esse tipo de amor, que te faz querer ser bom com o mundo inteiro porque ele é a casa de alguém que você ama, e porque ele te deu essa pessoa, é algo pro qual ninguém está realmente preparado. Mas que é muito fácil de aceitar, quando aparece. 


Aí você pode se perguntar “nossa, mas é assim mesmo que você fala da Júlia o tempo todo?” e a resposta é sim. Desde sempre. "Ela tudo isso pra você desde quando?" Sinceramente, eu acho que desde que o mundo é mundo, mas nessa vida aqui já tem quase um ano. Você pode perguntar pra alguém, se quiser. 

Na primeira vez que eu falei da Júlia pra minha irmã, ela não sabia quem era. Obviamente. Eu estava ali falando “nossa, a Julinha ia adorar isso”, “eu preciso mostrar isso pra Julinha” etc etc muito entusiasticamente e a minha irmã estava só sorrindo e concordando como se conhecesse a Júlia há muito tempo também. Eventualmente, meu cunhado ficou confuso o suficiente pra perguntar “quem é Julinha?” e aí eu expliquei, mas foi só uma formalidade. Quando alguém significa tanto pra você, as outras pessoas percebem sem você nem precisar explicar muita coisa. 

O céu é azul e a Júlia é amiga da Letícia. Lógico. 


Eu queria que todos os dias da Júlia fossem bons, mas essa é mais uma na lista de coisas que estão fora do meu poder. Então eu faço tudo que eu posso. Eu falo, e eu escrevo, e eu conto piadinhas, e às vezes eu só existo. E ela faz o mesmo do lado de lá. Espero que ela saiba que a simples existência dela já é o suficiente pra esse mundo aqui (o meu) ser melhor.

Espero que a Júlia continue existindo no meu mundo pra sempre. 

Por hoje é isso. 


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