21.12.20

Autonomia corporal.

| |
 
E se eu for só
um monte de ruínas que assumiu forma corpórea?
E se eu nunca aprender a não punir as pessoas por me amarem? Essa parece ser a única coisa na qual eu realmente sou boa. 
É tão fácil me enganar às vezes. Eu queria não ter construído uma vida ao redor da crença de que amor e atenção são a mesma coisa, mas não tenho certeza se cachorros velhos aprendem novos truques, então acho que agora eu vou ser assim pra sempre. 
Eu sou Midas ao contrário, e tudo que eu toco apodrece. E eu sou tão cuidadosa. Por favor não me deem plantas de presente - eu não tenho mais estômago pra cuidar tanto de alguma coisa e assistir ela morrer mesmo assim. Sol, água, palavras gentis. Eu não sei quando parar, eu nunca sei quando as coisas estão passando do limite. 
Eu meço tudo que eu digo três vezes. Eu guardo minha raiva só pra mim. Eu não choro na frente dos meus pais. Eu escolho cada palavra como alguém escolhe joias. 
Minhas mãos querem tocar, e aprender, e tentar, mas eu sinto tanta dor o tempo todo. Eu vivo embaixo do peso de tanta vergonha. De quê? De ocupar espaço no mundo. Por menor que seja.
Nada funciona pra mim por muito tempo. Eu acho que eu canso. Os outros, quero dizer. Eu canso os outros. As pessoas que dividiam barras de chocolate só comigo, escondidas de qualquer outra alma, hoje não dispensam mais muito tempo do dia pra mim. 
Às vezes eu acho que estou indo bem, mas às vezes eu quase choro por não conseguir dobrar papel de presente, e meu pai tem que encontrar outro jeito de me ensinar. E o Universo tem que encontrar novas maneiras de me ensinar a mesma lição.
E eu estou tão cansada de sentir as coisas sozinha. As promessas de que um dia isso vai mudar já não funcionam bem comigo. Eu não sei se consigo encontrar em mim alguém que saiba amar outra pessoa de um jeito que não faça ela querer ir embora. Que não faça ela esquecer da minha existência nos lábios de outra no primeiro sinal de problema, e que nem tenha coragem de me contar depois. 
Eu sou melhor em retrospecto. As pessoas esquecem o porquê de terem me deixado, e é tudo ótimo quando você me olha de longe. Mas normalmente elas demoram poucos meses pra se lembrarem. E aí o que me sobra é mais uma história que eu não gosto de contar. Acho que fico melhor vista do retrovisor.
Talvez minha vergonha espirre nos outros. Eu adoraria que partes melhores de mim respingassem nas pessoas que me cercam, mas eu acho que esse não é o tipo de coisa que se escolhe.
Acho que chega.

Sem comentários:

Enviar um comentário